10 mandamentos para que o Rio seja a Capital da Indústria da Música
Leo Feijó
No dia 9 de abril de 2025, a Casa Firjan e os produtores do festival Queremos! organizaram uma série de painéis sobre o setor musical.
O primeiro painel tinha como tema “O que falta para o Rio ser a Capital da Indústria da Música?”. Foi apresentado por Julia Zardo e mediado por Luciana Adão, com minha participação ao lado da professora Alessandra Baiocchi (PUC-Rio) e Douglas Resende, Coordenador de Políticas Culturais da Secretaria Municipal de Cultura do Rio (Prefeitura).
Durante o painel, apresentei os “10 Mandamentos para que o Rio seja a Capital da Música no Brasil”. Essa visão é fruto de mais de 25 anos de atuação no setor da música, como empreendedor musical, gestor público, jornalista e pesquisador. São propostas que podem ser adaptadas para outras cidades que entendam a música por seu potencial social e econômico.
Propostas para alcançar esse objetivo (baixe o PDF completo aqui)
Longe de pretender esgotar o tema, apresentei motivos para o reconhecimento da música como uma indústria do Rio de Janeiro. Apesar da relevância da música para o Estado do Rio e a capital e a ótima qualificação de integrantes dessas equipes para outros segmentos, a verdade é que não temos representações executivas especializadas em indústria da música na Prefeitura e no Governo do Estado.
Apesar de importantes associações, sindicatos e universidades – como Ecad, UBC, PróMúsica, ABMI, SindMusi, UFRJ e UNIRIO – não há uma plataforma interinstitucional que permita debater e planejar o setor musical no Rio, incluindo suas interfaces com educação, tecnologia, trabalho e o desenvolvimento econômico e social.
O Ecossistema da Música
O Ecossistema da Música no Rio reúne Musictechs, Gravadoras, Editoras, Fábricas de Vinil, Festivais, Casas de Espetáculo, Gêneros Internacionais como Samba, Bossa Nova, Soul Brasileiro, Funk, Rap, Forró, o Rock e a Música Eletrônica, entre outros, Emissoras de TV, Rádio, Publicidade e Streaming, Estúdios de Ensaio, Gravação e Mixagem, Fabricação de Instrumentos e Lojas de Equipamentos Musicais, entre outros segmentos.
A presença de empresas, músicos, produtores, as receitas com produtos e serviços e o amplo uso de música nas ruas e na indústria do entretenimento justificam a afirmação: música é uma indústria relevante em termos econômicos, culturais e sociais no Rio de Janeiro. É uma marca da cidade. A indústria da música deve ter reconhecida por seu valor na construção da identidade carioca e fluminense e por sua contribuição econômica.
Indústria Fonográfica e Direito Autoral
Em 2024, a receita da indústria fonográfica brasileira ultrapassou a marca dos R$ 3 bilhões pela primeira vez, atingindo R$ 3,486 bilhões, com um crescimento de 21,7% em relação a 2023, impulsionado pelo streaming, segundo IFPI, PróMúsica e UBC. É o oitavo ano consecutivo de crescimento, acima da média global.
Em 2023, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) registrou um recorde de distribuição de direitos autorais, pagando R$ 1,3 bilhão a mais de 323 mil compositores, intérpretes, músicos, editores e produtores fonográficos, representando um crescimento de mais de 12% em relação a 2022.

Por que somos indústria?
O Rio é sede do Ecad, das gravadoras “majors” (Universal Music, Sony Music e Warner Music), da Som Livre, Biscoito Fino e Deckdisc, da Altafonte e da Believe, de sociedades coletivas de autores como a UBC, produtoras de show, grandes festivais, tem casas de espetáculo, bares com música ao vivo, rodas de samba, bailes funk, charme e outras manifestações, estúdios de gravação e mixagem, produção cultural do subúrbio à Zona Sul, Carnaval, distribuidoras e até fábricas de vinil no Estado do Rio. Além de musictechs, centenas de gravadoras, selos e editoras, emissoras de TV, Rádio, publicidade, estúdios, lojas, universidades e escritórios de plataformas de streaming, entre outras atividades.
Por que ainda não somos a Capital da Indústria da Música no Brasil?
Propostas para alcançar esse objetivo (baixe o PDF completo aqui)
Os 10 Mandamentos | Rio de Janeiro Capital da Indústria da Música
1. Criação da Agência Municipal da Música: RioMúsica / Prefeitura do Rio
Criação da Agência Municipal da Música pela Prefeitura, ou RioMúsica, no modelo do que a RioFilme representa para o Audiovisual e a RioTur para o Turismo; definir uma fonte de recursos, como na Ancine; uma agência que elabore estratégias de ampliação do soft power do Rio por meio da música;
Uma agência que faça também a articulação com patrocinadores para palcos de médio e pequeno porte, festivais de médio porte e outros eventos; uma agência que elabore a candidatura do Rio como Capital da Música na UNESCO;
Uma agência que possa dialogar com a Secretaria de Educação para ampliar o ensino de música, e também as oportunidades para artistas em início de carreira. Uma agência que represente o setor, lidere o planejamento e estabeleça metas de receita, geração de empregos e incentive a inovação, com a criação de novas empresas no Rio de Janeiro.
2. Criação de uma vice-presidência da Indústria da Música na Firjan, em reconhecimento à força do setor
Reconhecimento da Indústria da Música como setor pela Firjan, a Federação das Indústrias do Estado do Rio, com a definição de um vice-presidente que represente a nossa indústria.
De acordo com o mapeamento da Indústria Criativa 2022 da própria Firjan, o Rio de Janeiro é a capital da indústria criativa no Brasil. Enquanto a participação desse setor no PIB brasileiro é de 2,91%, no estado chega a 4,62%.
Se somos a capital das indústrias criativas, é natural que possamos ser líderes no setor musical, mesmo sendo a segunda economia do país.
A música destaca-se pela sua capacidade de gerar receita, empregos e impulsionar a inovação tecnológica, além de promover o turismo e fortalecer a imagem do país.
3. Pesquisa Anual com Índices sobre a Economia da Música no Rio de Janeiro
Pesquisa anual sobre Economia da Música na Cidade do Rio de Janeiro, com dados sobre o setor da música, gerando um índice de acompanhamento econômico, bem como de identificação de gargalos para o crescimento;
Há pesquisas como a “Cultura nas Capitais”, com identificação de hábitos culturais (J Leiva), e , levantamentos realizados pela Rede Carioca das Rodas de Samba, temos os dados da IFPI e PróMúsica, porém essas pesquisas ambas ainda não dão conta de toda a indústria.
Por isso não temos uma radiografia do setor musical, em todos os eixos, que possam indicar as prioridades de políticas públicas e de investimento.

4. Trabalho e Renda: Qualificação Profissional para a Indústria da Música: planejamento de carreira e novas oportunidades para músicos e empresas
Formação: investimento por parte do poder público e das empresas do setor em parceria com instituições de ensino na oferta de Qualificação Profissional para a indústria da música.
Em outros países há dezenas de escolas que preparam o artista, produtores e executivos para atuar no mercado musical; em nossas universidades, o tema ainda é pouco abordado, formando músicos incríveis porém sem conhecimento da música na era digital, dificultando uma carreira sustentável.
A formação permite a geração de empregos e negócios inovadores, ampliando as oportunidades para músicos, produtores e jovens executivos para este mercado; conexão a com escolas de música e orquestras sociais é importante, assim como o diálogo com as secretarias de Educação e Trabalho.
5. Fundo da Música: Apoio aos Palcos de Médio e Pequeno Porte a partir da receita com Mega Festivais e Eventos
Eventos como o “Todo Mundo no Rio” são positivos para a imagem e a economia da cidade, mas é preciso equilibrar o esforço para manter a música viva todos os dias. Barcelona tem ótimos exemplos de políticas públicas para a Música, e o Reino Unido está seguindo o mesmo caminho, com 1% da receita nos mega concertos sendo revertidos para o fundo de apoio aos palcos de médio e pequeno porte.
Preciamos de mais editais de fomento específicos para palcos de médio e pequeno porte e de uma linha de crédito subsidiada para que esses palcos possam investir em sistemas de sonorização, iluminação e isolamento acústico, melhorando a experiência dos músicos, do público e reduzindo os problemas com a vizinhança, são essenciais.
6. Criação de um cargo de especialista em Música para pensar estratégias e mediar conflitos, como Night Mayor em NY e Londres
Defendemos a nomeação do equivalente ao Night Mayor existente em Londres e Nova York, por exemplo, que aqui poderia ser batizado como o Gerente da Música na cidade, ou mesmo estar associados à Agência Rio Música.
O fato é que hoje não temos um especialista em indústria da música em cargo gerencial na Secretaria Municipal de Cultura ou na Secretaria de Estado de Cultura no Rio de Janeiro. Essa falta de um executivo com experiência e visão de impacto da música no turismo, na economia, no soft power e mo impacto social da música dificulta a elaboração de políticas públicas que levem o Rio a ser a Capital da Indústria da Música. Por isso muitos artistas que antes vinham para o Rio, em outras décadas, hoje seguem para São Paulo.

7. Rede Música Brasil: participação do Rio na articulação nacional
Participação da cidade do Rio e do Estado do Rio na Rede Música Brasil, organização articulada pela Funarte e o Ministério da Cultura para desenvolver o setor no Brasil.
A Rede Música Brasil é uma instância de participação social, uma esfera de interlocução entre a sociedade, os movimentos, os coletivos e o poder público. Política pública precisa ser feita a muitas mãos, e todos ganham com essa interação”, destacou Eulícia Esteves, diretora de música da Funarte.
A Rede Música Brasil foi descontinuada por algum tempo, mas foi retomada recentemente, com o objetivo de fortalecer o setor musical e construir um futuro para a música no Brasil. Entre as dezenas de instituições participantes estão o Ecad, UBC, ABMI, ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical) e outras.
8. Internacionalização da Música: editais de apoio à circulação e presença em Feiras e Festivais no Brasil e no exterior
Criação de um departamento para a internacionalização da música brasileira produzida no Rio, para todos os gêneros, mas especial Samba, Choro, Bossa Nova, Soul Brasileiro, Rap, Funk, Música Eletrônica e gêneros como Pop e Rock e o Forró, além da Música de Concerto;
Nesta linha, lançar Editais para levar Artistas e Empresas do Rio para eventos com o SXSW e outros do circuito de feiras de negócios da música como a Womex na Europa; além de oferecer apoio no deslocamento no interior do Estado do Rio, para o Brasil e o exterior, levando nossos artistas do Rio de Janeiro, ampliando o público no mundo todo e atraindo mais turistas.
9. Prêmio para o Ecossistema da Música: uma premiação plural que reconheça artistas, palcos e iniciativas que valorizem a Música do Rio
A indústria da música é conhecida por premiações com o Grammy e o Grammy Latino. No Brasil temos o Prêmio Multishow e outras iniciativas. Um prêmio da cidade poderia identificar e estimular espaços e artistas que contribuem decisivamente para a economia da música na cidade.
São instituições, festivais, palcos, artistas, curadores, produtores, técnicos e diversos profissionais que trabalham pela música do Rio e merecem reconhecimento.
10. Musictechs: criação de Hub de Inovação com Universidades e Prefeitura
A tecnologia transforma a indústria da música. A partir do ciclo do streaming, a inovação passou a ser essencial e abriu espaço para o desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação.
As distribuidoras digitais e empresas que atuam no back office, gerando relatórios e realizando repasses de Direitos Autorais, formam um segmento relevante e estratégico. O Rio tem diversas empresas nesse segmento.
Identificar a fomentar a inovação no setor musical e estimular a Pesquisa & Desenvolvimento é apostar no futuro, inclusive com o uso e desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artifical na música.
A criação de laboratórios em parceria com a universidades e de um Hub de Inovação para Musictechs no Rio seria um passo importante para desenvolver ainda mais a indústria musical no Rio.
Abaixo-Assinado: criação da Agência Municipal da Música
Se você concorda com as propostas e com a criação de uma agência dedicada à música no Rio, participe!

Nós, Agentes da Música da Cidade do Rio de Janeiro, sugerimos a criação da Agência Municipal da Música – RioMúsica, seguindo um modelo existente da Riofilme e da Riotur.
O seu apoio é muito importante. Apoie esta causa.
Assine o Abaixo-Assinado.
https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR151007
Sobre o autor
Leo Feijó é empreendedor musical, educador e jornalista. É mestre em Empreendedorismo Criativo pela Goldsmiths, Universidade de Londres. Foi Subsecretário de Cultura e Coordenador de Música no Governo do Estado do Rio. Gerenciou a Incubadora Rio Criativo. Vencedor de Editais como Natura Musical, Fomento Carioca (Rio 450 Anos), já realizou projetos para Petrobras, Oi Futuro, Vivo e Sesi Cultural. Fundou a Escola Música & Negócios, em parceria com o Gênesis PUC-Rio, iniciativa que já certificou 5.000 alunos. É autor de “Diversidade na Indústria da Música no Brasil” e coautor de “Rio: Cultura da Noite” (Editora Leya, com Marcus Wagner, em 2014).
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